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Une Histoire Vraie

um espectáculo de teatro físico

Criação e Encenação

Lionel Ménard

Apoio dramatúrgico Mário Primo | Elenco Helena Rosa, Mafalda Marafusta, Marina Leonardo, Raul Oliveira, Rogério Bruno e Tomás Porto | Desenho de luzes Rui Senos | Selecção musical Lionel Menárd Sonoplastia João Martinho | Adereços de cena Colectivo | Cenografia Helena Rosa, Lionel Ménard e Rita Carrilho | Carpintaria de cena  Natália Terlecka e Pedro Mira | Costureira Florbela Santos | Fotografia Victormar | Design Gráfico Ricardo Lychnos

 

Produção AJAGATO 2022

 

Agradecimento a Mathilde Mariat e em especial a todos os participantes na MasterClass de Junho de 2022. Esta criação é também vossa.

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SINOPSE

Pauline regressa à casa de infância movida por uma dúvida inquietante que a  acompanha há muito. Revisita os espaços que guarda na memória e reencontra sinais perturbadoramente reveladores sobre as suas origens. Nos últimos anos pesquisou muito, procurou indícios e as memórias de infância fundem-se agora com as constatações factuais, os relatos e os presságios. Pauline reconstitui pouco a pouco a história da sua vida e vê confirmados os seus maiores medos, mas também descobre que, por detrás da imagem arrepiante do casal Tenardier, que a criou como filha, se esconde uma manifestação de amor comovente. No final terá de tomar uma decisão corajosa. Será Pauline capaz de vingar a memória de seus pais e fazer a justiça que ela reclama?

PROJECTO

34 anos de actividade teatral levaram o GATO, por caminhos variados, à exploração e descoberta de diferentes técnicas e linguagens expressivas. Porém, a importância dada à comunicação não verbal e a fusão da expressão corporal com a dança foi desde sempre uma dominante na maioria dos seus espectáculos. O grupo já fazia teatro físico antes mesmo de saber que aquilo que fazia podia ter essa designação.

O “Vai Vem”, realizado em 2015, sob a direcção do encenador colombiano Juan Carlos Agudelo, enriqueceu o repertório da companhia com uma proposta mais técnica e “silenciosa”, num país onde esta linguagem tem poucos cultores. Este espectáculo abriu portas à internacionalização da companhia e criou uma rede de contactos que desejamos reforçar com esta nova produção que, sendo igualmente de teatro físico sem texto, aposta agora numa história concreta e num processo mais narrativo.

O desafio feito ao encenador francês, Lionel Ménard, justificou-se pelo conhecimento e apreço por cinco criações suas que trouxemos a Portugal, três delas com a companhia polaca Warsaw Mime Center e as restantes com a companhia checa de Lenka Vagnerová e a alemã de Alexander & Neander. De realçar que este último espectáculo ganhou o prémio de público do projecto LITORAL EmCena em 2021. A formação que cá dirigiu nesse ano confirmou o desejo mútuo de prolongar esta colaboração em 2022 com uma MasterClass e um projecto de criação teatral. Lionel Ménard, o criador de espectáculos com imagens fortes inesquecíveis, aceitou o desafio e propôs o tema, a metodologia e o processo.

 

A guerra tem bocas e as bocas da guerra não beijam as bocas mas cospem na terra.

Era uma vez uma família de refugiados que fugiam da guerra. A mãe não sobreviveu à longa viagem e um casal de fazendeiros aceita esconder o pai e a filha, ainda bebé. Porém, eles vão lá ficar muito mais tempo do que o esperado... O que levará o casal a fazer crer ao refugiado que a guerra ainda não acabou?

 

Nada nem ninguém é completamente branco ou preto. Todas as personagens desta história estão perante um dilema. Terão elas a coragem para assumir a verdade? Todas lutam com os seus estados de alma, revelando ao longo do espectáculo uma parte de humanidade e outra de cobardia. Não será este o espelho das nossas próprias vidas?

Todos os dias os noticiários nos dão notícias trágicas. Face aos náufragos das embarcações precárias, a nossa empatia dura apenas alguns dias. Mas essas histórias são verdadeiras!

Lá fora, na neve, homens, mulheres e crianças esperam para passar a fronteira, enquanto nós, no calor das nossas casas, nos preparamos para comemorar o Natal. Essas histórias são verdadeiras!

Os bombardeamentos da população civil alimentam temporariamente a nossa raiva. No entanto, estamos mais preocupados com o próximo fim de semana...

Somos testemunhas das injustiças e atrocidades mas a quantidade e a frequência das noticias banalizam a sua crueldade e levam-nos a esquecer que ainda ontem gritávamos  “nunca mais! ".

Sem juízos de valor ou preconceito maniqueísta, “Une histoire vraie” mostra-nos que as respostas são quase sempre complexas e variadas, questionando a nossa atitude perante o infortúnio alheio.

Se soubesse que o amava tanto, tê-lo-ia amado mais.

No início do filme "Les Misérables" de Claude Lelouch há uma cena com uma dupla amorosa. Annie Girardot não diz nada ou não pode dizer. Fabrice Benichoux, o refugiado judeu, observa-a e espera. Essa é a mais bela declaração de amor que eu já vi. Annie Girardot, a camponesa, esconde esse refugiado, fazendo-o acreditar que a guerra continua para que ele não se vá embora. Surpreendido com a minha emoção ao ver essa cena, procurei motivações na minha memória para o entender melhor.

 

Lá bem do fundo de mim veio o último encontro com o meu pai.

«Olhámo-nos um instante, alguns segundos suspensos, cada um de nós retendo as palavras. Então, o meu pai virou-se e foi embora... Gostaria de ter inventado uma história para o reter, mas nada me ocorreu, nada. »

 

Aos 30 anos de idade emergiu do meu inconsciente, como saído de um monte de lama, a possibilidade de ter tido outro pai.  Começou assim uma busca obsessiva da verdade. Vejo-me à procura de indícios, questionando, separando o verdadeiro do falso. Precisei de reconstituir um puzzle, sujar as mãos, cavar, tirar a terra, enxugar os olhos. Por fim, foi uma frase escrita que me trouxe a paz. Algumas palavras de um testamento:“Lionel, filho de Jean”

 

Nesta peça sou eu a Mafalda que descobre escritos gravados na pedra.

 

Nada mais restava do que fazer a ponte entre a pesquisa sobre a identidade de meu pai e essa cena do filme "Les Misérables". No curso de formação comecei por convidar os participantes a revelar alguns dos seus segredos, os seus maiores momentos de felicidade, as fantásticas coincidências das suas histórias. Todos, desde essa formação inicial até as últimas semanas de ensaios, puderam ajudar-me a construir a ponte.

 

Este projeto foi iniciado na Polónia, há alguns anos, por iniciativa de Bartlomiej Ostapczuk e agora realizado em Santo André graças à AJAGATO. Mário Primo foi como um pai para mim - Benevolente, encorajador, intransigente.

 

Há em cada uma das personagens uma identificação com a minha história, mas existem também tragédias reais contadas em tempo de guerra. O teatro é frequentemente criticado por se isolar do mundo. Espero que a trágica notícia dos factos faça sentido para o público.

Finalmente, agradeço aos meus magníficos atores que me inspiraram, me convenceram, me questionaram, me ajudaram a encontrar o caminho.

 

O novelo de lã está agora desembaraçado.

A história tornou-se verdadeira.

Lionel Ménard

CONCEITOS PARA UMA CENOGRAFIA NATURAL E ECOLÓGICA

Palco nebuloso, de memórias e sombras.

Terra negra, alimento de vida e sudário dos mortos.

Argila fresca, máscara do tempo e segunda pele.

Pigmentos terrosos de origens várias.

Água de beber, de lavar e de acordar.

Figurinos recriados de roupas usadas, resgatadas à sua função primeira.

Tecidos de linho de mãos dadas com algodão e estopa.

Madeiras manchadas, descoloridas e gastas.

Baldes, muitos baldes de zinco ardido e velho.

Uma névoa a esbater as luzes e a uniformizar a leitura dos corpos e dos materiais.

Um figurino vermelho dissonante a marcar a passagem do tempo e o epílogo desta história.

Lágrimas de terra nos olhos inocentes...

Eis, em traços gerais, a estética de cena deste espectáculo, em que o simbólico e o surreal servem uma narrativa poética, densa e fria, num universo em que o desconcerto do mundo faz emergir o lado mais negro da natureza humana. O espaço cénico agiganta-se com as luzes, adentra-nos nele, suga-nos como um buraco negro e o monocromatismo da cenografia e dos figurinos no piso escuro e térreo do palco acentua a densidade emotiva do espectáculo.

 

Mário Primo

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